Promotora responsável pela denúncia é a mesma que atuou no júri da tragédia da boate Kiss
JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) denunciou por quatro crimes Joseane de Oliveira Jardim, de 42 anos, acusada de matar a jovem grávida Paula Janaína Ferreira Melo, de 25, para ficar com o bebê. O caso ocorrido em Porto Alegre, em outubro deste ano, relembra o caso da esquartejadora de Sana Maria, ocorrido em 2005 (leia mais abaixo).
O caso envolvendo Joseane e Janaína ocorreu em 14 de outubro passado, no Bairro Mario Quinana, zona Norte e Porto Alegre. Janaína estava grávida de nove meses.
O corpo da mãe da criança foi encontrado escondido debaixo de uma cama em um dos quartos da casa. O bebê, de 9 meses, não sobreviveu. Joseane morava no mesmo condomínio da mãe da víima. O caso começou a ser invesigado depois que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) levou a suspeita, junto com o bebê morto, até o Hospital Conceição
A promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari, da Promotoria de Justiça do Tribunal do Júri de Porto Alegre e que atuou no júri da boate Kiss, denunciou Joseane pelos crimes de homicídio qualificado, aborto e ocultação de cadãver, além do delito de “dar parto alheio como próprio”.
Em relação ao homicídio, as qualificadoras são motivo torpe, emprego de meio cruel, para dificultar a defesa da vítima, dissimulação e para assegurar a execução de outro crime.
“O Ministério Público ofertou denúncia contra esse caso que chocou a todos nós gaúchos pela forma de sua execução planejada, organizada e abalando o estado civil das pessoas. Uma pessoa atrai outra, uma grávida de nove meses, simulando que vai fazer uma doação e simplesmente a mata, tira o bebê e tenta fazer com que o bebê seja seu aos olhos de todos. Um crime lamentável que merece uma punição equivalente à gravidade de tudo que aconteceu”, diz a promotora Lúcia Callegari.
ENTENDA O CASO
No dia 14 de outubro, a denunciada atraiu a vítima até sua casa, também no Bairro Mario Quintana, local onde ocorreu o homicídio.
A intenção dela era roubar o bebê e se tornar mãe dele. Para isso, a criminosa prometeu doações e fingiu para a vítima que também estava grávida com o objetivo de criar um vínculo de confiança.
A denunciada usou um instrumento contundente para atingir diversas vezes a cabeça de Paula Melo e ainda cortou a barriga dela para retirar a criança do seu ventre. No dia 15, a autora do crime e o bebê foram levados para um hospital da Capital após ela ter simulado um parto.
No entanto, os médicos constataram a farsa e acionaram a polícia. A mulher foi presa e o corpo da vítima foi descoberto embalado em cobertores e sacos plásticos embaixo da cama na casa da denunciada.
Paula e o bebê, que havia recebido o nome de Endrick pela família e estava previsto para nascer dia 5 de novembro, foram sepultados no dia 17 de outubro em Porto Alegre. Segundo a investigação, a criminosa, que é casada e tem dois filhos adotivos, agiu sozinha.
Conforme o delegado Thiago Carrijo, que trabalhou nas investigações, Joseane abordava as possíveis vítimas em redes sociais, com promessas de presentes para os filhos delas.
Em relação a Paula, a aproximação ocorreu porque a jovem acreditou na promessa de que receberia um carrinho de bebê.
Crime relembra caso da esquartejadora de Santa Maria
Em março de 2005, um caso ocorrido em Santa Maria estarreceu o Rio Grande do Sul. Marilei Barragan da Silva, então com 30 anos, assassinou e esquartejou o corpo da dona de casa Gloria Maria da Silva dos Santos, então com 44 anos.
Marilei, que se apresentava como técnica de enfermagem, e conheceu a vítima, que haviado dado à luz uma menina, no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).
Em 3 de março, Glória recebeu alta do Husm e foi para a casa de Marilei, levada pela assassina. Marilei matou Glória com injeções e com a ajuda do então namorado, Vagner Lopes da Silva, na época com 22 anos, esquartejaram o corpo de Glória. A intenção de Marilei era ficar com a recém-nascida.
Em 9 de março de 2005, Vagner espalhou os pedados do corpo em terrenos com vegetação ao longo da RS-509, conhecida como Faixa Velha de Camobi.
As investigações foram conduzidas pelo delegado André Diefenbach, que hoje atua na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Santa Maria.
Marilei e Vagner foram presos. Em 2006, o Tribunal do Júri em Santa Maria condenou Marilei a 23 anos de prisão por homicídio qualificado.
Vagner foi condenado a três anos e quatro meses de prisão por ocultação de cadáver. Ele morreu de leucemia alguns anos depois. Marilei cumpriu a pena, mas chegou a voltar à prisão quando estava no regime semiaberto por não cumprir medidas judiciais.