Paralelo 29

Coronel que deu aulas no Colégio Militar de Santa Maria ficou fora da denúncia da PGR contra acusados de trama golpista

Arte sobre foto e texto/Paralelo 29

Carlos Giovani Delevati Pasini foi indiciado pela PF por ter revisado uma carta a militares

JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29*

Indiciado pela Polícia Federal como um dos autores de uma carta para pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gome, a aderir à tentativa de golpe de Estado, em 2022, o coronel Carlos Giovani Delevati Pasini ficou fora da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra envolvidos em uma trama golpista. Pasini lecionou no Colégio Militar de Santa Maria.

No total, dez pessoas que haviam sido indiciadas pela PF em novembro de 2024 na investigação que apurou tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito não foram denunciadas nesta terça-feira (18) pela PGR. Entre eles, estão o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-assessor da Presidência Tércio Arnaud.

Na noite desta terça-feira (18), a PGR denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de golpe de Estadoabolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

Justiça Militar abre mão de investigar coronel Pasini e colegas, e inquérito sobre tentativa de golpe é enviado ao STF

Foram indiciados pela PF, mas não foram denunciados pela PGR (em ordem alfabética):

1. Alexandre Castilho Bitencourt da Silva

2. Amauri Feres Saad

3. Anderson Lima de Moura

4. Aparecido Portela

5. Carlos Giovani Delevati Pasini

6. Fernando Cerimedo

7. José Eduardo de Oliveira e Silva

8. Laercio Vergilio

9. Tércio Arnaud

10. Valdemar Costa Neto

Coronel teve conversas printadas pela PF

Um dos prints juntados pela PF no indiciamento de Pasini/Foto: Reprodução

No inquérito, a PF juntou prints de conversas de WhatsApp que comprometeriam Carlos Giovani Pasini. O documento que ele teria ajudado a elaborar, como revisor, foi denominado “Carta dos Oficiais Superiores ao Comandante do Exército Brasileiro” e tinha como objetivo pressionar o então comandante do Exército a aderir à tentativa de golpe, posteriormente frustrada.

Além de Pasini, os coronéis da ativa Alexandre Castilho Bitencourt da Silva e Anderson Lima de Moura e o coronel da reserva José Otávio Machado Rezo também foram indiciados como autores da carta endereçada ao comandante do Exército.

No fim do ano passado, o Exército relatou indícios de crime militar na referida carta, com críticas indevidas e incitação à indisciplina.

Ao Parelo 29, militar negou acusações

Em 26 de novembro de 2024, o Paralelo 29 publicou uma reportagem exclusiva em que ouviu o coronel Giovani Pasini sobre as acusações da Polícia Federal contra ele.

No primeiro contato do Paralelo 29, Pasini passou o nome do seu advogado, Matheus Pires. Depois, o militar enviou mensagem de texto por WhatsApp ao Paralelo 29, alegando ser inocente. O coronel chegou a afirmar que ficou saendo da carta “pela imprensa”.

No entanto, no inquérito da Polícia Federal enviado ao STF, há prints de mensagens que envolvem Pasini em conversas com outros militares a respeito da carta. Pasini alega que é revisor de textos.

Pasini é natural de Santiago, na região do Vale do Jaguari, e tem graduação em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Também é graduado em Língua Portuguesa e Literaturura e tem doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Ele lecionou Língua Portuguesa em escolas da cidade, entre elas o Colégio Militar de Santa Maria. É escritor e poeta vinculado a entidades culturais como Associação Santa-Mariense de Letras (ASL) e da Casa do Poeta e é autor e organizador de mais de uma dezena de livros.

A participação de Giovani Pasini na política é discreta. No entanto, em 2018, em plena onda bolsonarista, ele concorreu a deputado estadual pelo Patriotas depois de uma tentativa de concorrer pelo PL. Naquele ano, Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República pelo PSL, hoje incorporado ao União Brasil.

Entenda

A PGR denunciou nesta terça-feira o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 33 pessoas ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. A acusação também envolve outros militares, entre eles, o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa Braga Netto e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Braga Netto concorreu a vice na chapa de Bolsonaro à reeleição.

No documento, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, detalha a participação de Bolsonaro e dos demais acusados e afirma que o grupo agiu com violência e grave ameaça para impedir o funcionamento dos Poderes da República e para tentar depor o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda de acordo com a denúncia, Bolsonaro contou com o auxílio de aliados, assessores e generais para “deflagrar o plano criminoso”, que teria ocorrido por meio de ataques às urnas eletrônicas, afronta às decisões do Supremo e incentivo ao plano golpista, entre outras acusações.

(* Com informações de Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil)

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