Paralelo 29

CASO ZEZINHO: Assassinato de empresário completa um ano com autor preso, a dor de uma família e perguntas sem respostas

Foto: Arquivo Familiar

Diagnosticado com esquizofrenia, assassino justificou que via a vítima como uma ameaça a ele

JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29

Desde a tarde de 22 de fevereiro de 2024 a família Lopes de Andrade convive com a dor da perda e com perguntas aida sem respostas e que, talvez, nunca sejam respondidas, apesar da prisão do autor. A principal delas: O assassinato do empresário José Carlos Lopes de Andrade, de 71 anos, o Zezinho, morto com 32 facadas, no Centro de Santa Maria, poderia ter sido evitado?

A pergunta surge diante da constatação que o autor das facadas que tiraram a vida de Zezinho é uma pessoa com esquizofrenia paranoide, um grave transtorno mental que nunca foi tratado. Se o autor das facadas tivesse sido diagnosticado e tratado no tempo certo, teria cometido o crime?

Neste sábado, 22 de fevereiro de 2025, o assassinato que chocou Santa Maria completa um ano. Durante as investigações, a descoberta bastante surpreendente: o autor das facadas seria esquizofrênico e não teria uma motivação para matar José Carlos, conhecido como Zezinho.

Em março de 2024, poucos dias depois do crime, em sua participação no Podcast Estação 29, o delegado de Polícia Regional de Santa Maria, afirmou que o assassinato de Zezinho era tratado pela Polícia Civil como “um fato atípico”.

Ou seja, o crime não estava relacionado a nenhuma questão passional, a dívidas ou ao crime organizado. Também já estava descartado um latrocínio (roubo com morte).

”É uma questão que até vai surpreender um pouco as pessoas quando a gente apresentar a motivação”, disse Meinerz, sem entrar em detalhes para preservar o trabalho da Polícia Civil.

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Foragido é preso em Albergue de Santa Catarina

Autor das facadas, diagnosticado com esquizofrenia, foi preso em Joinville/Foto: Divulgação, PC

Em 12 de abril, meses após o crime, a Polícia Civil localizou e prendeu o autor das facadas, identificado como Josias de Quadros Sena, de 46 anos. Ele foi preso em um albergue para moradores de rua na cidade de Joinville, em Santa Catarina.

O preso foi levado para um presídio catarinense para, depois, ser transferido para Santa Maria. Questionado pelo Paralelo 29 na época, o então delegado de Homicídios de Santa Maria, confirmou que uma das linhas investigatórias trabalhava com a possibilidade de Josias ser esquizofrênico. Ou seja, portador de um grave distúrbio mental caracterizado pela perda do contato com a realidade.

No entanto, Arigony mostrou-se cauteloso e disse que a Polícia Civil precisaria de mais elementos para confirmar essa linha de investigação, que acabou se confirmando.

Atualmente, Josias está recolhido ao sistema penitenciário em Santa Maria e aguarda transferência a uma instituição psiquiátrica.

O Paralelo 29 apurou que ele está na Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm) desde 10 de janeiro. O preso está em cela comu, em galeria, convivendo com outros detentos.

Conforme informações do próprio sistema penitenciário, com o fim do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), em Porto Alegre, faltam locais especializados para presos com distúrbios mentais. Assim, teria que ser encontrada outra instituição para a internação do preso.

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Inquérito concluído e indiciamento por homicídio qualificado

O atual delegado de Homicídios de Santa Maria, Adriano Winkelmann De Rossi, informou o Paralelo 29 que o inquérito policial da morte de Zezinho foi concluído ainda no ano passado, antes mesmo da prisão do autor das facadas no albergue de Joinville.

“O autor foi indiciado por homicídio qualificado em março do ano passado. O Inquérito Policial foi remetido ao Poder Judiciário em 18 de março de 2024”, informou De Rossi.

No entanto, a palavra final ficou com o Ministério Público Estadual e com a Justiça. Pessoas como Josias, em que há diagnóstico confirmado de uma doença mental grave, são consideradas inimputáveis. Ou seja, não são responsabilizadas por seus atos, mas ocorre a internação compulsória em uma instituição psiquiátrica para tratamento permanente.

A defesa de Josias acabou sendo feita pela Defensoria Pública Estadual, enquanto a família da vítima contratou dois advogados para acompanhar o caso.

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Perguntas sem respostas

Zezinho com os filhos: “Perdemos um pai raiz”/Foto: Arquivo Familiar

Um ano depois do crime, a família Andrade ainda convive com a dor da perda e com a ausência de respostas. O Paralelo 29 conversou com a advogada Michele Andrade, filha mais velha de Zezinho em fevereiro deste ano, dias antes de o crime completar um ano.

Michele destaca que as dúvidas se referem a uma motivação para o crime e se ele poderia ter sido evitado. Ele ressalta que o trabalho da Polícia Civil foi exemplar, ágil e trouxe uma satisfação aos familiares,

Michele relatou que a família vive o luto e que, apesar do alívio de saber que o autor das facadas foi identificado e preso, ela ainda teme que o homem seja solto.

Ela acredita que, por ser esquizofrênico, o assassino de seu pai poderá voltar a cometer crimes graves caso fique sem acompanhamento.

“Ele não fala nada com nada. Para ele, meu pai era uma ameaça, mas não disse porque considerava que meu pai era uma ameaça. Ele chegou a dizer, em audiência, que havia procurado um tesouro em uma praça de Uruguaiana. Pelo que soube, ele teria sido identificado com problemas mentais quando tinha uns 12 anos de idade, mas nunca passou por tratamento”, conta Michele, revelando que gostaria de ter ficado frente a frente com o homicida.

No ano passado, quando o crime completou um mês, Michele também falou com o Paralelo 29. Na época, ela desabafou: “Nada vai trazer meu pai de volta”.

A advogada e os outros quatro filhos de Zezinho escreveram um artigo para o Paralelo 29 contando a trajetória do pai e relatando a dor da família.

A família mandou rezar uma missa de um ano de falecimento de José Carlos às 18h deste sábado na Basílica de Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria.

Advogado da família da vítima diz que homicida não pode ser solto por representar grande perigo

O advogado criminalista Fabiano Braga Pires, contratado pela família de Zezinho como assistente de acusação, confirmou ao Paralelo 29 que u laudo assinado por uma psiquiatra e uma psicóloga atestou que Josias tem esquizofrenia paranoide.

Por conta disso, o juiz acatou a tese de insanidade metal do réu e julgou que Josias é incapaz de responder por seus atos. No entanto, apesar de ser inimputável, a lei estabelece que pessoas como Josias devem ser internadas por 12 meses “como medida de segurança”.

E a cada 12 meses, um novo laudo é realizado para verificar as condições mentais da pessoa. No caso de Josias, Braga Pires disse que irá acompahar todos os laudos dele.

“Ele é perigoso e representa uma ameça para a sociedade e para a família. A assistência de acusação vai trabalhar nesse sentido, acompanhando os laudos”, diz o advogado.

Segundo Braga Pires, homicida e vítima se conheciam, pois Josias trabalhou em uma empresa metalúrgica de Zezinho no Bairro Camobi. No entanto, eles nunca teriam tido desavenças.

Em declarações, o assassino mostrou comportamento delirante. Ele chegou a dizer que namorava com a cantora Sandy. Também disse que teria sido vítima de tiros em uma cidade do Nordeste e que os autores seriam a família de Zezinho.

Relembre o crime

Na tarde de 22 de fevereiro de 2024, uma quinta-feira, o empresário José Carlos Lopes de Andrade, o Zezinho, de 71 anos, foi surpreendido e atacado na entrada de um prédio na Rua Ângelo Uglione, no Centro de Santa Maria.

Assim que golpeou Zezinho, o agressor fugiu. A Polícia Civil chegou a divulgar um vídeo com o rosto do assassino para que a população pudesse ajudar na identificação.

Dias depois, a Polícia Civil conseguiu o contato de um familiar do homem. Foi nessa diligência que a Polícia Civil foi informada que o autor das facadas teria problemas mentais.

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