Paralelo 29

SABRINA SIQUEIRA: Sábado por saúde, pão, gentileza e educação

Uma das faixas no protesto em Santa Maria/Foto: Bruna Homrich, Sedufsm, Divulgação

SABRINA SIQUEIRA

Jornalista e podcaster do Literatura Oral

29 de maio é o Dia Nacional da Gentileza, data escolhida em função da morte de José Datrino, o “profeta Gentileza”, em 1996.

Ele percorria as ruas do Rio de Janeiro espalhando palavras de bondade e deixou 55 painéis em pilastras de viadutos com inspirações para sermos mais atentos uns com os outros, como “Gentileza gera gentileza”.

Este ano, a data foi escolhida para um protesto demonstrando a insatisfação popular com a negligência do governo no tratamento da pandemia, na compra de vacinas, na liberação de auxílios emergenciais para a população desempregada e em outras ações e falas que passaram longe dos conceitos de empatia e gentileza.  

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O último sábado de maio foi marcado por protestos contra a administração federal, e também com críticas aos governos estaduais e muitas prefeituras, Brasil afora.

A indignação do povo que saiu às ruas é principalmente quanto à gestão da crise sanitária durante a pandemia e aos índices de desemprego, considerando os principais bordões do movimento: “Estaremos na rua porque o governo é mais perigoso que o vírus” e “Vida, pão, saúde e educação”.

Como não pude participar das manifestações dessa vez, vou aproveitar esse espaço para mostrar quais seriam os possíveis cartazes que seguraria, se estivesse presente.

SABRINA SIQUEIRA: Porque a realidade não basta, literatura!

E A VACINA DOS PROFESSORES? – Na última quarta-feira, 26 de maio, o prefeito de Santa Maria finalmente marcou uma possível data para o início da imunização de professores e profissionais da educação, que deve começar na semana que vem.

Mas isso depois de um longo silêncio enquanto observava manifestações de pais exigindo volta às aulas (sem menção de proteção aos trabalhadores de escolas por parte desses familiares cansados da interatividade presencial dos próprios filhos, numa escala 24 horas por dia/ 7 dias da semana).

Esse agendamento acontece também depois de casos de covid19 confirmados em escolas da cidade que retornaram às aulas presenciais, a maioria delas privadas, onde os funcionários têm menor autonomia para se posicionar contrários e fazer greves.

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Jovem segura faixa que pede impeachment do presidente/Foto: Divulgação

MINISTRO SALLES, QUE AZAR! PASSOU A BOIADA E PERDEU O CELULAR! – Quase uma marchinha de Carnaval, mas nem tanto, esse cartaz faria referência ao providencial desaparecimento do celular do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante operação de busca e apreensão por parte da Polícia Federal, em 19 de maio. 

A operação Akuanduba investiga crimes contra a administração pública envolvendo exportação ilegal de madeira para Estados Unidos e Europa. Akuanduba é uma divindade da mitologia dos índios Araras, que habitam o Pará, um dos Estados atingidos pelo desmatamento ilegal da Amazônia.

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Tomara que o celular não tenha caído onde passou a boiada, nas áreas desmatadas de floresta para criação ilegal de gado de corte, para não ter sido pisoteado enquanto a imprensa se volta para a cobertura da pandemia e o Ministério do Meio Ambiente se faz conivente com criadores, grileiros e garimpeiros.

Ou também que não tenha ficado perdido entre as toras de árvores antigas cortadas e despachadas com documentação facilitada, jazendo mortas em uma famosa foto do ministro, orgulhoso, com as mãos na cintura.

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 – VACINA, SIM! DIZ O POVO AO GOVERNO – Sobre a campanha “Vacina, sim!”, da Rede Globo e suas afiliadas, que está direcionada ao público errado. A campanha é voltada ao povo, como se houvesse disponibilidade de doses para todos e os brasileiros, preguiçosos e malandros, não estivessem atendendo ao apelo das autoridades em ir se imunizar.

A campanha faria mais sentido se fosse voltada ao governo federal, que desperdiçou oportunidades de negociar a compra de vacinas com laboratórios desde antes da finalização das pesquisas, que resultaram em diferentes imunizantes.

Da forma como está sendo veiculada, a campanha distorce a realidade, que é de desespero da população por estar a salvo e poder retomar suas atividades o quanto antes.

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CEMITÉRIOS CHEIOS/ GELADEIRAS VAZIAS – GOVERNO RUIM NÃO SALVA VIDAS NEM ECONOMIA – Essa, autoexplicativa!

E, por fim, a clássica VIVA A EDUCAÇÃO, PORQUE DE IGNORANTE BASTA O PRESIDENTE! – Apesar de achar que o presidente não é apenas ignorante, mas perverso e mal-intencionado.

Esse cartaz faz referência à necessidade de ficarmos atentos aos movimentos de cortes na educação e sucateamento do ensino superior.

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Nessa semana, o deputado carioca “cristão, patriota, armamentista” e apoiador adivinha de qual presidente Anderson Moraes (PSL) protocolou projeto de lei que dispõe sobre a extinção da UERJ, o que deverá ficar como mais uma bravata dos que chamam pesquisa acadêmica de balbúrdia.

Casal exibiu cartaz falando do transporte coletivo/Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29

Ainda que tal projeto tenha como meta desviar a atenção da opinião pública de outras questões urgentes, o fato é que as universidades públicas estão sofrendo cortes que ameaçam a continuidade de suas atividades há anos. E isso acontece silenciosamente, mas interfere no capital cultural dos brasileiros e na produção de riqueza do país.

E quanto a você, leitor? O que escreveria em um cartaz de protesto? Qual a sua indignação?

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