ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA
Todos nós derramamos lágrimas no decorrer da vida. Na Primavera, aqueles que têm mais sensibilidade ao pólen das flores sofrem da Síndrome do Olho Seco. Mas as lágrimas adoecem por vários fatores.
Em busca de conforto e alívio, usa-se a lágrima artificial. O momento é oportuno para lembrar dos olhos marejados de tantas pessoas ao redor do mundo.
Fico aqui imaginando a quantidade de lágrimas derramadas pelos lugares, nas enchentes no Sul do país, nos incêndios tantos, com olhar especial para Córdoba, na Argentina, na seca arrasadora no Amazonas e, enfim, na inenarrável guerra que assola o Oriente Médio e preocupa o mundo inteiro, sob a possibilidade real de grande escalada. Especialmente, as lágrimas das crianças…
CÁ ENTRE NÓS: Procuram-se pacificadores!
A certeza da mudança
Fui chorar mas não tive lágrimas. Sim, meus olhos estão secos de esperança. Mas sim, ainda resta a certeza da mudança. Porque tudo muda o tempo inteiro e a impermanência é a realidade mais certa.
Na história observamos que as guerras trouxeram, depois de todas as lágrimas e desespero, a solidariedade entre as vítimas, a fraternidade fortalecida e a inteligência transmutada em soluções para facilitar a vida de todos.
Então, por mais que forças das sombras estejam revoltas, não poderão evitar a mudança e enfim, as esperadas lágrimas da alegria, do alívio, da redenção.
CÁ ENTRE NÓS: Estamos plastificados!
O terror em detalhes
Descrever a guerra exige o vocabulário mais triste de qualquer língua. Olhamos a TV e ali está o terror em detalhes. Não aparecem, no entanto, as tantas iniciativas dos pacificadores, dos ativistas que vêm há muito tempo trabalhando lindamente pela paz no Oriente Médio. Claro, esses assuntos não rendem para os cofres dos veículos.
Hoje, não sabemos se esses atores da paz estão vivos ou mortos, mas plantaram sementes que nascerão depois. Deixaram legados e inspirações às novas gerações.
Veremos seus frutos e flores no futuro e pensaremos na quantidade de lágrimas de alegria pelo mundo. Porque a mudança é a única certeza dessa vida.
O grande mestre budista
Pensar na impermanência faz lembrar o grande mestre budista tibetano Chagdud Tulku Rinpoche, que em 1959 escapou da ocupação da China comunista do Tibete e viveu exilado em comunidades de refugiados na Índia e no Nepal até se estabelecer nos Estados Unidos, em 1979.
Em 1994, mudou-se para o Brasil e começou a construção do seu centro principal, o Khadro Ling, em Três Coroas, onde permaneceu até sua morte. O lugar é um ponto turístico, mas muito mais.
Estudei com profundidade o Budismo Tibetano durante seis anos e um dos livros mais importantes para a minha formação foi “Portões da Prática Budista”.
No livro, Rinpoche afirma: “Tudo que se forma tem que se desfazer; tudo que se junta tem que se separar, tudo que nasce tem que morrer. Mudanças contínuas e implacáveis são constantes em nosso mundo”.
Assim, aguardemos com resiliência que a instabilidade das sombras e as lágrimas de desespero se transformem no lindo céu azul com ventos mansos da paz e, enfim, lágrimas de redenção e alegria transbordem em nossos olhos.