Paralelo 29

Projeto de anistia a santa-marienses do 8 de janeiro avança na Câmara dos Deputados

Foto: Lula Marques, Agência Brasil

Relator deu parecer favorável à materia, mas discussão foi adiada; Região Centro tem 12 réus no STF

JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29*

O projeto de lei que concede anistia aos condenados envolvidos nos atos de  dia 8 de janeiro de 2023 avançou nesta terça-feira (10) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Há 12 pessoas de Santa Maria e cidades da região entre os processados.

O deputado Rodrigo Valadares (União/SE) apresentou o parecer favorável à anistia, mas o início da ordem do dia no Plenário interrompeu a continuidade dos debates na comissão, como determina o Regimento Interno da Câmara, e a discussão foi adiada.

O relator apresentou alterações em relação ao projeto original, que previa a anistia a todos os condenados em manifestações desde o dia 30 de outubro, quando atos contrários ao resultado eleitoral bloquearam rodovias em várias partes do país. Agora, pelo novo parecer, os anistiados devem ser os condenados nos atos a partir do 8 de janeiro.

De acordo com o artigo 1º do Projeto de Lei 2.858/2022, “ficam anistiados todos os que participaram de manifestações com motivação política e/ou eleitoral, ou as apoiaram, por quaisquer meios, inclusive contribuições, doações, apoio logístico ou prestação de serviços e publicações em mídias sociais e plataformas, entre o dia 08 de janeiro de 2023 e o dia de entrada em vigor desta Lei.”

O que houve no 8 de janeiro

Atos de 8 de janeiro resultaram em depredação e prisões em Brasília/Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil

No 8 de janeiro de 2023, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, pedindo a adoção de um golpe militar no Brasil.

A sessão começou com a obstrução dos partidos contrários a anistia, que começaram apresentando uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para aumentar a pena para criminosos ambientais, mas a medida foi rejeitada pela maioria da comissão.

PSOL apresenta relatório paralelo

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL/SP) apresentou um relatório paralelo contrário ao projeto. Ela lembrou que a anistia é um instituto humanizador e deve ter como motivação o interesse público.

“A utilização da anistia em benefício próprio e de apoiadores políticos configura notório desvio de finalidade, que não deve ser tolerado. No Estado Democrático de Direito não há lugar para a edição de leis que contrariem o interesse da coletividade”, destacou.

Ainda segundo ela, o projeto estimula os crimes contra a honra e contra o Estado Democrático de Direito e viola o princípio da independência entre os Poderes, o que o tornaria inconstitucional, “na medida em que objetivam desconstituir decisões judiciais. Ferem, por consequência, os imperativos do devido processo legal, da segurança jurídica e da coisa julgada”.

O que diz a legislação

No Brasil, é crime tentar depor – por meio da violência ou de grave ameaça – o governo legitimamente constituído ou impedir e restringir o exercício dos poderes constitucionais, conforme define a Lei 14.197/2021.

Essa lei também considera crime incitar, publicamente, a animosidade entre as Forças Armadas e os demais poderes constitucionais. As penas variam e podem chegar a 12 anos de cadeia.

Militantes da Região Centro foram presos

Doze militantes de Santa Maria e de municípios da Região Centro foram presos em decorrência do 8 de janeiro, sendo que dois deles já foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O santa-mariense Eduardo Zeferino Englert pegou 17 anos de reclusão no ano passado. Comerciante e estudante de Psicologia, ele foi preso em maio “por risco de fuga” e está na Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm). Englert aguarda recurso.

Já em maio deste ano, o STF condenou o santiaguense Lucas Schwengber Wolf. O arquiteto nascido em Santiago e morador de Três Passos pegou 14 anos de prisão. Ele recorreu.

Os demais réus aguardam julgamento. O caso de Robergson Luiz de Rossi, o Beto Rossi, auxiliar de taxista de Santa Maria, não aparece na lista de processos do STF. Beto, que chegou a fugir do Brasil, está preso na Pesm.

OS RÉUS DA REGIÃO CENTRO

Lista de bolsonaristas processados pelo STF pelo 8 de janeiro:

  • ALICE TEREZINHA COSTA DA COSTA, 52 anos, ex-líder comunitária em Santa Maria e atual suplente de vereadora pelo União Brasil em São Martinho da Serra
  • EDUARDO ZEFERINO ENGLERT, 41 anos, empresário do ramo lojista em Santa Maria. Já tem condenação
  • ELIZANDRA DOS SANTOS RODRIGUES, de Santa Maria
  • HOLVERY RODRIGUES BONILHA, tenente da reserva da Brigada Militar em Santa Maria
  • IVETT MARIA KELLER, 57 anos, empresária do ramo lojista em Santa Maria
  • JAIRO MACHADO BACCIN, 50 anos, professor de Hebraico Bíblico, de Jaguari
  • LUCAS SCHWENGBER WOLF, 35 anos, arquiteto, nascido em Santiago, morador de Três Passos. Já tem condenação
  • MARIA JANETE RIBEIRO DE ALMEIDA, 49 anos, de Santa Maria, seria a organizadora da excursão
  • ROBERGSON LUIZ DE ROSSI, conhecido como Beto Rossi, auxiliar de taxista e ex-comerciante de 57 anos, de Santa Maria
  • SILVIO DA ROCHA SILVEIRA, advogado de Santa Maria
  • SONIA MARIA STREB DA SILVA, 54 anos, professora aposentada da rede municipal no município de São Pedro do Sul
  • TATIANE DA SILVA MARQUES, empresária, 41 anos, de Santa Maria

Deputado gaúcho defende bolsonaristas

Favorável à anistia, o deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS) afirmou que a revolta das pessoas ocorreu porque o presidente Lula foi eleito e subiu a rampa do Palácio do Planalto uma semana antes. Ele reconheceu “excessos” e depredação, mas criticou o que chamou de “farsa”.

“Não foi por acaso que aconteceu o 8 de janeiro, com todos os seus excessos, e inclusive, sim, todas as depredações, que precisam, individualmente, serem averiguadas. Mas o ministro Alexandre de Moraes, a Procuradoria Geral da República e todos os envolvidos nessa farsa, decidiram não individualizar a conduta, e mandar todos para a cadeia, no atacado, inclusive muitos que nem estavam em Brasília”, afirmou.

Com a interrupção da sessão na CCJ, que analisava um requerimento de retirada de pauta,  o projeto de lei deve ser voltar à pauta nesta quarta-feira (11), de acordo com a presidente da comissão, Carolina de Toni (PL-SC).

(*Com informações de Lucas Pardeus León e Pedro Rafael Vilela, repórteres da Agência Brasil – Brasília)

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