Paralelo 29

PARALELAS: A menos de três semanas da eleição, o que falta para a campanha deslanchar em Santa Maria?

Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29
JOSÉ MAURO BATISTA ´- PARALELO 29

A exatos 19 dias do primeiro turno – menos de três semanas – , a campanha eleitoral continua morna em Santa Maria. Tanto em nivel de horário eleitoral como em termos de rua. Até mesmo na pandemia, em 2020, o Centro da cidade parecia mais disputado pelos candidatos.

No horário eleitoral, alguns concorrentes chegam a ser cansativos, tanta a repetição. Os concorrentes com mais tempo – Rodrigo Decimo (PSDB) e Valdeci Oliveira (PT) buscam mostrar realizações dos governos que representam ou representaram, sobretudo obras.

Roberta Leitão (PL) e Giuseppe Riesgo (Novo), que se apresentam como novidades, oram batem no PT, ora no PSDB. E tentam se cacifar como legítimos representantes da direita. Uma aposta ideológica contra o pragmatismo dos outros dois.

Avanço à esquerda e neutralidade

Decimo, que no podcast Estação, em julho, se definiu como de centro-direita, avançou à esquerda. Tem repetido no horário eleitoral que “governa para a direita e para a esquerda” e ressalta que o que interessa é Santa Maria. Pragmatismo puro.

Valdeci, que tem um aliado de direita, o União Brasil, não tratou, até agora, de questões ideológicas. Centra suas intervenções nos governos dele e do vice, José Haidar Farret (União Brasil), que também já foi prefeito. Os programas do candidato petista beiram à neutralidade no quesito ideologia. Puro pragmatismo também.

Um corre por fora, outros adotam o repeteco

Paulo Burmann (PDT) corre por fora e mira em todas as candidaturas. Em vídeo publicado em suas redes sociais, o pedetista usa cartas de baralho para descartar adversários. Dizem que copiou a paulista Tábata Amaral (PSB). Burmann bate forte em todos, com exceção de Dr Moacir (PRD) e Alídio da Luz.

Entre os que têm menos tempo de TV, Alidio tem batido no transporte coletivo, enquanto sua vice fala em creches e emprego para filhos de mulheres pobres.

Moacir é o único que não variou de peça publicitária no horário eleitoral, repetindo, desde os primeiros programas, que “é um operário da saúde que tem as mãos limpas”. E, pelo jeito, vai ser assim até o fim do horário eleitoral.

NOTAS TRANSVERSAIS

Debates quase apáticos

Nos dois debates realizados até agora, o clima de confronto foi morno. Até pelo formato engessado das regras, que não propicia momentos mais quentes. Mas falta contundência. O que não significa, de forma alguma, que tenham que partir para a baixaria vista em outras cidades, sobretudo São Paulo, onde um candidato chamar o outro de ladrão é elogio.

Isso, contudo, não quer dizer que o clima não esquente por aqui, pois vêm aí pelo menos mais dois debates, com destaque para o da RBS TV, às vésperas do pleito, sempre mais quentes.

Nem guerra jurídica existe

Em eleições anteriores, os pedidos de direito de resposta eram mais frequentes na Justiça Eleitoral. Neste primeiro turno, houve apenas um: o PT entrou na Justiça contra a coligação capitaneada pelo PSDB para reponder, no horário eleitoral do adversário, uma cobrança feita pelo candidato Rodrigo Decimo, atual vice-prefeito, acerca de caminhões com doações enviadas pelo hoje extinto Ministério da Reconstrução. O PT pediu direito de resposta, mas não levou.

Pesquisas: Que falta faz uma concorrência!

Uma questão que chama a atenção nestas eleições e que podem explicar um pouco a apatia é a falta de pesquisas eleitorais contratadas por veículos de comunicação. Até agora nenhuma foi feita, diferentemente de pleitos anteriores.

Sobram, assim, as pesquisas partidárias, aquelas encomenadas pelas coligações. Só que estas são apenas para consumo interno e não podem ser divulgadas.

Que falta faz uma concorrência na cidade! Desde a campanha municipal de 1988, o jornal A Razão contratava pesquisas eleitorais. E mais de uma por eleição. Em 2022, surgiu o Diário de Santa Maria, implantado na cidade pelo grupo RBS. E as pesquisas continuaram ocorrendo.

A partir de 2017, com o fechamento do A Razão, o Diário ficou sozinho no mercado. E, desde então, não se fez mais pesquisa eleitoral. O custo das pesquisas pesa no bolso dos veículos, que preferem apostar, no caso dos grandões, na sucessão municipal de Porto Alegre. Vale mais a pena investir em debates, podcasts e entrevistas.

Certamente, se tivesse mais de um veículo do porte do Diário na cidade, ao menos um estaria fazendo pesquisas eleitorais para se diferenciar do concorrente. E talvez os dois fizessem.

Um comício e nada mais

Comício com Bolsonaro foi o maior realizado neste primeiro turno/Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29

Ao que parece, a falta de recursos, o desinteresse da população por política e o avanço das redes sociais, que mudaram o modo de fazer campanha, sepultaram os grandes comícios.

Até o momento, apenas a candidata Roberta Leitão fez um evento de mais peso ao trazer o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à cidade. E por mais que não tenha sido um megacomício, juntou muita gente no Largo da Locomotiva e fez barulho na campanha.

Os demais apostam em arrastões, corpo a corpo, nas redes sociais e no horário eleitoral. Até mesmo minicomícios ou comícios-relâmpago e carreatas estão escassos.

Cabos eleitorais de luxo, como o presidente Lula e o governador Eduardo Leite, sõ apareceram na propaganda de seus candidatos. E assim mesmo foram aparições discretas. Há poucos indicativos de que esse cenário mude, ao menos no primeiro turno.

Invasão de wind banners

Talvez o que mais chame a atenção do eleitor e da população em geral, até o momento, é a invasão de wind banners, que são aqueles banners confecionados em tecido presos a uma haste. E cabos eleitorais nas esquinas com as bandeiras dos candidatos. E só.

MÁQUINA DO TEMPO

Há36 anos, briga de rua pode ter virado eleição em Santa Maria

O episódio da cadeirada do candidato José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) no debate pela Prefeitura de São Paulo, na noite do último domingo (15), na TV Cultura, leva a Máquina do Tempo até o ano de 1988.

Tudo para contar que, aqui, no Coração do Rio Grande, também houve um episódio de agressão em campanha eleitoral. E que pode ter virado a eleição daquele ano.

Na tarde de 28 de outubro de 1988, a poucos dias do pleito, o então candidato a prefeito pelo MDB, Osvaldo Nascimento, e o vereador Arnaldo Souza (PDT) envolveram-se em uma briga na rua.

Repercussão, intromissão e virada

O fato teve enorme repercussão à epoca e ganhou o noticiário político e o horário eleitoral. Um terceiro candidato, Marcos Rolim (PT), que não estava no episódio, resolveu “entrar na briga” ao divulgar nota criticando a postura dos adversários. Rolim estava crescendo nas pesquisas.

Fato ganhou noticiário na época/Foto: Reprodução, jornal A Razão
Em nota, coligação petista resolveu entrar na peleia/Foto: Reprodução, jornal A Razão

Àquela altura, dois candidatos despontavam nas intenções de voto: Osvaldo e Renan Kurtz, este do PDT. Evandro Behr, do PDS (atual PP), que aparecia atrás em todas as consultas, ficou na dele, fez uma campanha pacificadora e propositiva, e ganhou a eleição. Os mais antigos lembram até hoje desse episódio e afirmam que ele serviu de lição.

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