Paralelo 29

LUTO NO RS: Morre Alceu Collares, líder trabalhista e único negro a governar o Estado

Foto:Marcio Machado/SECS

Político tinha 97 anos e estava internado com pneumonia, em Porto Alegre, desde o dia 16

JOSÉ MAURO BATISTA- PARALELO 29

O ex-governador Alceu de Deus Collares, de 97 anos, morreu às 2h40min desta terça-feira (24), no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, em decorrência de complicações de uma pneumonia. Collares foi o único governador negro na história do Rio Grande do Sul. Ele era do PDT.

O governador Eduardo Leite (PSDB) decretou luto oficial de três dias em homenagem a Collares. O velório aberto ao público ocorre no Palácio Piratini das 11h às 16h desta quarta-feira (25). O sepultamento será no Cemitério Jardim da Paz.

“Minha solidariedade aos filhos de Collares e à sua esposa, Neusa Canabarro, neste momento de dor. Que possam encontrar conforto na memória de sua trajetória e no reconhecimento de sua contribuição para nossa sociedade. O Rio Grande do Sul perde um grande líder, mas seu exemplo será eterno”, declarou Leite.

Figura histórica na política do Rio Grande do Sul e do Brasil, Collares foi o primeiro governador negro do Estado, entre 1991 e 1995.

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Uma trajetória de lutas pela redemocratização do país

Alceu Collares militou no MDB e fundou o PDT com Brizola/Foto: Reprodução, PDT

Nascido em Bagé, em 1927, dedicou sua vida ao serviço público. Formado em Direito, ingressou no PTB e em 1964 elegeu-se pela primeira vez vereador em Porto Alegre.

Foi deputado federal de 1971 a 1983, inicialmente pelo MDB e depois pelo PDT. Primeiro prefeito de Porto Alegre eleito pelo voto direto depois da redemocratização, governou a cidade entre 1986 e 1988. O líder trabalhista também foi uma das vozes contundentes contra a ditadura militar que se instalou no Brasil entre 1964 e 1985.

A trajetória política de Collares deixa um legado de luta pela justiça social, pelos direitos dos trabalhadores e pelo desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Na educação, também deixou sua marca com a construção dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), modelo pioneiro de escola em tempo integral.

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CONFIRA UMA ENTREVISTA HISTÓRICA COM O LÍDER TRABALHISTA

No ano passado, o Centro de Memória Trabalhista (CMT) do PDT lancou um episódio da série “Trabalhismo na História” em homenagem ao Dia da Consciência Negra. E o entrevistado foi Alceu Collares. Confira a entrevista:

Construindo CIEPs, modelo revolucionário de escola

Alceu Collares teve como uma das marcas do seu governo a construção dos Centros Integrados de Educação Popular (CIEPs), um modelo de escola de tempo integral idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro e implantado nos dois governos de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983 a 1987 e 1991-1994). Conhecidos como “Brizolões”, os CIEPs representaram uma proposta revolucionária.

Em Santa Maria, Collares implantou o CIEP Paulo Lauda, hoje Escola Estadual Paulo Lauda, no Bairro Tancredo Neves, na zona Oeste da cidade.

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Assunção de outra liderança

Ao assumir como governador, Collares nomeou o então deputado estadual João Luiz Vargas, na época ex-prefeito de São Sepé, como líder do governo na Assembleia Legislativa.

João Luiz começava ali uma trajetória política no PDT, que foi interrompida e retomada há quatro anos, com sua eleição para a Prefeitura de São Sepé. O pedetista tentou a reeleição mas não conseguiu.

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Polêmicas na Educação

Apesar das obras inauguradas, a Educação foi a área mais conturbada do governo Collares. O então governador nomeou a esposa, Neuza Canabarro, como secretária estadual de Educação. A gestão de Neuza foi marcada por polêmicas e conflitos com pais, professores e imprensa.

Collares implantou o Calendário Rotativo, medida criada para garantir vagas a todos os alunos da rede pública estadual, com ano letivo dividido em três períodos diferentes.

Pais se revoltaram porque as férias dos filhos não coincidiam com as suas. O Calendário Rotativo foi motivo de protestos e de ações judiciais.

Em agosto de 1994, estudantes, pais e professores ligados ao Cepers-Sindicato realizaram protestos pelo fim do Rotativo, com diversas manifestações e até aulas nas calçadas. A mobilzação chegou à imprensa nacional.

O jornal Folha de S. Paulo noticiou em 2 de agosto de 1994 que uma passeata em Santa Maria resultou na intervenção da Brigada Milita e na detenção de três professoras.

O Calendário Rotativo foi um dos temas da campanha de 1994 ao Palácio Piratini. Na campanha eleitoral, Antonio Britto (PMDB), que substituiu Collares, foi um crítico contundente do modelo, tanto que o primeio ato dele como governador foi revogar o Calendário Rotativo.

Para garantirr a implantação de sua política na educação, Neuza Canabarro, que era acusada de “mandar no governador”, adotou outra medida polêmica: nomeação de diretores das escolas estaduais. A decisão gerou mais protestos dos que defendiam a eleição direta para diretor com os votos da comunidade escolar.

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Nova Santa Marta

Também foi Collares quem deu início ao processo de regularização da antiga Fazenda Santa Marta, hoje Bairro Nova Santa Marta. A área, que também fica na zona Oeste de Santa Maria, foi ocupada no início dos anos 90 e virou uma invasão.

Depois de muita polêmica envolvendo a forma como a antiga Fazenda Santa Marta foi ocupada, o governo estadual distribuiu os primeiros títulos de propriedade. Collares esteve em Santa Maria para anunciar a decisão.


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