Ele teve um mal súbito em Salvador, na Bahia, durante viagem com a família; confira reportagem feita em 2017
JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29
Morreu na manhã desta quarta-feira (25), aos 85 anos, o médico e neurocirurgião Enedir Boges Texeira, conhecido como Dr. Enedir. Segundo a Revista Interativa, de Santa Maria, Enedir estava em Salvador, na Bahia, com a família, e teve um mal súbito.
Enedir foi pioneiro em neurocirurgia em Santa Maria e no interior do Rio Grande do Sul. Aposentado desde 2019, depois de 55 anos de atuação na Medicina e na docência como professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ainda morava na cidade.
O neurocirurgião era casado há quase 60 anos com a professora de Inglês Jair de Oliveira Teixeira, com quem teve três filhos: Ricardo (falecido), Daniela e Michele. Ricardo e Daniela seguiram a profissão do pai, e Michele, é advogada. Enedir também deixa dois genros e três netos.
O neurocirurgião contou sua trajetória ao repórter José Mauro Batista em julho de 2017 para uma reportagem publicada no jornal Diário, de Santa Maria.
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Graduação na UFSM em 1964 e a primeira especialização
Nascido em São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, Enedir mudou-se para Santa Maria em 1959 para estudar na então Faculdade de Medicina. Acabou pegando a transição para Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e concluiu a graduação em 1964, na 6ª turma de Medicina.
Em meio ao curso, optou por se especializar em neurocirugia. Depois de formado, fez residência em Porto Alegre, com o médico e professor Eliseu Pagliogli, precursor da neurocirurgia no Brasil.
A convite do neurologista Oscar Schelp, retornou a Santa Maria, pois a cidade precisava de um neurocirurgião. Enedir começava, então, a implantar a especialidade no Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo (HCCA), hoje Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo.
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Precursor em cirurgias complexas para a época
No Caridade, o médico recém formado passou a realizar cirurgias complexas para a época como cirurgias de crânio, coluna vertebral e nervos periféricos. No mesmo hospital também inaugurou o Serviço de Neurorradiologia Intervencionista.
Quando se formou, sequer havia neurocirurgia no interior do Rio Grande do Sul. Após a especialização no Instituto de Neurocirurgia de Porto Alegre, Enedir fez um curso em microcirurgia, na Suiça, com o professor Gazi Yasargil, cientista de referência internacional.
Trajetória como professor universitário: ajudando a formar médicos
A trajetória na UFSM começou com a crição da disciplina de neurocirurgia, a primeira no currículo de uma universidade do interior.
A partir da criação dessa cadeira no curso de Medicina, teve início o processo de interorização da neurocirurgia. De professor contratado, o médico passou a titular de Neurocirurgia.
“Como professor, ajudei a formar centenas de novos médicos. Fui escolhido inúmeras vezes como professor homenageado, paraninfo e patrono de turmas de Medicina. Sempre procurei manter-me atualizado, introduzindo novas técnicas, como a biópsia estereotáxica e a cirurgia minimamente invasiva, propiciando melhor tratamento para lesões profundas, além das técnicas rotineiras”, contou Enedir na reportagem.
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Inovações, congressos e prêmios
Outra técnica inovadora, a neuroendoscopia foi introduzida como técnica cirúrgica e também como ferramenta complementar à microcirurgia convencional. Junto ao Caridade, criou o Serviço de Neurorradiologia e Radiologia Vascular Intervencionista.
Com frequência, Enedir participativa de congressos e eventos nacionais e internacionais para se especializar, manter-se atualizado sobre os avanços da Medicina e, também, para palestrar e passar seus conhecimentos a outros profissionais.
Entre as premiações que Enedir recebeu por sua atividade como neurocirurgião estão o Latinamerican Quality Awards, recebido na Cidade do México, em 2016, e o Prêmio Excelência e Qualidade Brasil, de 2015.
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Vida para o trabalho e para a família
Na época, Enedir disse que não pretendia se aposentar. E fez uma revelação um tanto surpreendente para alguém da área da saúde: “Não tenho um hobbi, não pratico esporte”, disse.
O que mais o médico gostava, além da atividade profissional, era estar com a família. Ele tinha uma propriedade rural no Distrito de Pains, em Santa Maria, e gostava de viajar.
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Uma tragédia familiar e uma explicação para vida e morte
Em 14 de dezembro de 2011, uma tragédia abalou a família: a morte trágica e prematura do filho Ricardo Teixeira, também neurocirurgião e professor da UFSM, aos 44 anos.
Na entrevista de 2017, Enedir deu sua definição para vida e morte: “Acredito em Deus e sou católico. A vida tem de ser entendida e compreendida como uma extensão da concepção à finitude, o que inclui alegrias e tristezas, vitórias e decepções. É o período entre o nascimento, que não pedimos, e a morte, que não queremos, mas que não podemos mudar e no qual temos que nos definir como seres humanos e lidar com as coisas da vida”.
