Paralelo 29

SABRINA SIQUEIRA – Opinião: O BBB e a vida

SABRINA SIQUEIRA

Jornalista e podcaster do Literatura Oral

Vontade eu tinha de expressar minha opinião, mas estava “fazendo a fina” citando caso Watergate e Nísia Floresta.

Mas vai daí Ludwig Larré, o primeiro jornalista com quem trabalhei, como estagiária, abriu precedente, e o editor deste site jornalístico concordou com um segundo texto sobre o tema.

Então lá vou eu comentar Big Brother Brasil!

SABRINA SIQUEIRA – Opinião: Boicote

Assisti a quase todas as edições. Prefiro o formato reality show a novelas, que não acompanho. Não entendo quem critica esses programas com o argumento de que “são uma baixaria que corrompe a inteligência do povo”.

Quem diz isso provavelmente não se informa sobre política, prática mais provável de idiotizar quem se presta a entender as maracutaias de seus agentes.

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O que poderia encurtar a criticidade dos brasileiros não são programas televisivos trimestrais, mas a super taxação em livros numa tentativa de elitizar a prática da leitura, bem como a falta de incentivo para produções teatrais, entre outras, que reverberam no preço dos ingressos e dificultam a presença massiva das pessoas em ter acesso à cultura.

Mas respeito a opinião de quem, simplesmente, não gosta.

O que me agrada no BBB é a feliz constatação de que, mesmo em meio a uma competição em que a rivalidade é estimulada por todas as regras do jogo, sempre alguns bons valores se sobressaem, apesar dos defeitos e chatices que todo ser humano têm.

SABRINA SIQUEIRA – Opinião: Bovarismo coletivo

E acompanho como quem torce em um campeonato futebolístico, torcendo pelo seu time, indignada com as perdas de passes e… vou me limitar nas comparações porque sou zero esportiva!

Em alguma instância, o microcosmos da casa mais vigiada da TV aberta brasileira repercute a sociedade aqui fora.

Nesta edição, teve a mulher que parecia gente boa, inteligente, viajada, que acolheu o participante negro quando estava sendo escorraçado pela maioria, mas que, passadas algumas semanas, se revelou fã do presidente que facilita importação de armas enquanto negligencia a compra de vacinas anti-covid, em plena pandemia.

Montagem sobre fotos/Sabrina Siqueira

Em conversas com outros participantes – cortadas da edição da Globo, mas vazadas por blogueiros e comentaristas na internet, que captaram os diálogos dos canais 24 horas Pay Per View – Sarah Andrade se posicionou contrária a um possível impeachment de Bolsonaro e afirmou “eu gosto dele”, antes de fazer diversas revelações do quanto se chateou com os protocolos de saúde nas festas em que participou no período de distanciamento social no qual ainda estamos.

Eu fiquei querendo perguntar a ela o que há para gostar “nele”.

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Sarah escancarou algo que já sabíamos, que não há como polarizar o mundo entre bons e maus, porque mesmo indivíduos declaradamente egoístas, a ponto de enaltecer genocidas, podem ser carismáticos e amigos leais. Ou não?

Depois de “bugar” com essas declarações da participante, que até então era minha aposta, fiquei me perguntando se todas as suas atitudes ali, até aquele momento, não teriam sido pensadas para conquistar aprovação do público.

Como ter se aproximado e defendido o participante gay e ter sido empática com o preto excluído.

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Porque, pensando bem, eu estava passando pano para uns alertas de caráter duvidoso dela, como a vez em que embaralhou as peças de outra participante, a Lumena, em uma disputa pela liderança; a quebra de promessa em não votar na rapper Karol; e a mentira para o aliado Rodolffo de que ele não estava em perigo de ir ao paredão, segundos depois de escutar do líder que o sertanejo seria o indicado.

Por falar em Rodolffo, além de nunca ter dormido no chão no revezamento das camas, o cantor reproduziu na casa um caso recorrente de misoginia, em que a vítima de maus tratos é considerada culpada pelo próprio infortúnio.

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Aconteceu quando a atriz Carla não recebeu uma imunidade que poderia ter sido concedida a ela pelo namorado, Arthur. Rodolffo apontou a escolha de Arthur como a prova do quanto Carla não era leal, a ponto de o ficante  não lhe dar a imunidade.

Percebem a distorção de valores? Ninguém na casa percebeu, e quando acontece aqui fora, será que são muitas as vozes prontas a apontar a injustiça?

Sarah já veio desfrutar do Brasil de seu mito aqui fora, e Rodolffo está se desculpando desde a eliminação.

Falta a saída de Viih Tube, cuja falsidade com os outros participantes é proporcional ao mau gosto na escolha do nome artístico.

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A youtuber foi a responsável, na primeira semana, a nos lembrar o quanto a educação é desvalorizada no Brasil.

Parte do elenco devia escolher um porta-voz para anunciar seu indicado ao paredão. A advogada e tagarela Juliette manifestou a vontade de ser a anunciante.

Vitória, a Tube, exigiu um teste da apresentação dela e determinou que Juliette não sabe se expressar bem e não a deixou fazer o comunicado.

Do alto da arrogância dos seus 20 anos, a garota se considera apta a julgar quem sabe ou não falar. 

Claro que ter concluído o curso de Direito não confere a ninguém o dom da eloquência, mas, sendo a oratória uma das características da advocacia e tendo Juliette sido aprovada por uma banca de professores desse metier, quem é Tube para julgar em contrário?

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Ter milhões de seguidores não pode ser salvo conduto para tanto, mas parece que pode ser argumento para fazer muitos adultos de trouxa.

Por fim, minha indignação com a produção no que se refere aos castigos de monstro e escassez de variedade alimentícia na xepa, grupo em que ficam os enjeitados pelo líder da semana.

 Quem quer ver pessoas em revezamentos de 48 horas, em pé, do lado externo da casa, em fantasias adequadas para o clima da Sibéria?

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E basta de assistir os participantes tendo somente rabada como opção de refeição. Já chega os necessitados de fora da casa, cada vez em número maior no governo do ídolo de Sarah.

Obs: A imagem é uma indicação de quem é meu pódio. Descubra e comente no Instagram para sabermos se é também o teu.  

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