Tatiane da Silva Marques e Eduardo Zeferino Englert, empresários acusados de participar de atos antidemocráticos, já tiveram pedidos de liberdade negados
Três meses após a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, dois santa-marienses que participaram das manifestações contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuam presos no Distrito Federal. A empresária Tatiane da Silva Marques, 41 anos e o empresário Eduardo Zeferino Englert, 41 anos, foram mantidos na prisão apesar de reiterados pedidos de liberdade.
Em uma rede social, o empresário La-Hur Souza Marques, pai de Tatiane, publicou mensagem em rede social em defesa da filha e com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), em especial ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelas investigações referentes a atos antidemocráticos.
“Minha filha Tatiane da Silva Marques está ´sequestrada´ pelo ditador de toga, Alexandre de Moraes, confinada na Penitenciária Feminina Colmeia, em Brasilia, DF. Foi sequestrada na manhã de 9 de janeiro por ser ativista política de direita”.
De acordo com a postagem, La-Hur diz que Tatiane foi a Brasília em uma comissão unicamente para solicitar ao STF a entrega do código fonte das urnas eletrônicas a técnicos militares do Exército e que ela não teria participado de atos de vandalismo nas sedes dos Três Poderes.
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Empresária fez vídeos que viralizaram
Tatiane ganhou momentos de fama em nível nacional após postar vídeos do ginásio para onde foram levados bolsonaristas presos pelos atos de 8 de janeiro.
Em um dos vídeos, a santa-mariense reclama das condições a que os presos estariam submetidos na triagem e diz que o local era “um campo de concentração do Lula”. No vídeo, ela protesta contra a “comida de cadeia” que deram aos detidos.
“Nem cachorro come aquilo lá”, disse Tatiane, que também espalhou fake news, desmentidas posteriormente, de que pessoas haviam morrido na triagem.
Pertencente a uma família de empresários da área de saúde, Tatiane ajudava a administrar um cartão de assistência médico-hospitalar e laboratorial ligado ao Serviço de Assistência Médica Familiar (Sampar), uma empresa fundada em 1966 em Santa Maria. A avó dela, Magdalena Souza Marques, que era farmacêutica, foi uma das fundadoras do Sampar.
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Carreira política sem sucesso
Ligado ao chamado bolsonarismo-raiz, Tatiane tentou a carreira política, mas nas duas vezes em que se candidatou não conseguiu se eleger. Em 2018, ela concorreu a deputada federal pelo Partido Social Liberal (PSL), na época partido do então candidato a presidente Jair Bolsonaro. Fez 5.138 votos.
Dois anos depois, a bolsonarista se candidatou à Câmara de Vereadores de Santa Maria, desta vez pelo Partido Liberal (PL). Ela fez 329 votos e novamente ficou fora.
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Reportagem ouviu amigo da bolsonarista
Em uma reportagem publicada em 12 de janeiro pela BBC News Brasil, o site traça um perfil de Tatiane com base em informações de um amigo que não foi identificado no texto.
Segundo esse amigo, a empresária santa-mariense “vivia fazendo postagens delirantes em suas redes sociais e nos grupos de família. Alegava que estava defendendo o Brasil do comunismo e que era perseguida por ser de direita. Só comparilhava fake news e se alguém a confrontasse, era imediatamente taxado de petista e comunista”.
De acordo com a fonte, Tatiane começou a se radicalizar pouco antes da eleição de Bolsonaro à presidência da República em 2018. O amigo contou, ainda, que a empresária monopolizava o grupo de WhatsApp da família com áudios longos, partindo para o ataque quando alguém discordava dela.
Empresário nega participação em depredações
Já Eduardo Zeferino Englert fez sua última postagem em seu perfil no Facebook em 8 de janeiro, dia dos atos golpistas em Brasília. Na mensagem, ele citou um trecho da música “Faroeste Caboclo”, da banda Legião Urbana: “Dizia ele, estou indo pra Brasília, neste país lugar melhor não há”.
Englert também aparece como empresário em seus perfis nas redes sociais. Ele chegou a ter um aplicativo de transportes em Santa Maria e, atualmente, consta como sócio de uma ferragem no Bairro Dom Antônio Reis, na zona Sul da cidade. Consta também que ele é proprietário de uma pequena empresa de presentes (personalização de canecas).
A primeira tentativa da defesa de Englert de revogar a prisão dele foi negada pelo ministro Ricardo Lewandowski em 17 de janeiro. Na ocasião, o advogado Marcos Vinicius Rodrigues de Azevedo alegou que o empresário santa-mariense não tinha relação com o financiamento das manifestações e que ele havia bancado sua passagem de ônibus para Brasília, onde teria chegado após os atos de vandalismo.
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Ônibus teria levado mais de 40 pessoas da região
Mais de 40 pessoas de Santa Maria e região teriam partido para Brasília com o objetivo de participar das manifestações de 8 de janeiro.
Dos que foram presos, 11 foram soltos, conforme o Paralelo 29 conseguiu apurar. O último foi o tenente da reserva da Brigada Militar Holvery Rodrigues Bonilha, que estava preso em um presídio militar de Brasília e foi solto em 10 de março pelo ministro Alexandre de Moraes.
Para serem colocados em liberdade, os presos tiveram que aceitar condições impostas pelo STF, entre elas usar tornozeleira eletrônica para monitoramento e não usar as redes sociais.
ATIVISTAS DA REGIÃO QUE FORAM SOLTOS
- Alice Terezinha Costa da Costa, 52 anos – São Martinho da Serra, solta em 8 de março
- Eliane de Jesus da Silva Oliveira, 42 anos – Não é da região, mas foi para Brasília no ônibus que partiu de Santa Maria com outros bolsonaristas, solta em 8 de março
- Elizandra dos Santos Rodrigues, de Santa Maria, solta em janeiro
- Holvery Rodrigues Bonilha, tenente da reserva da Brigada Militar, solto em 10 de março
- Ivett Maria Keller, 57 anos, empresária de Santa Maria, solta em 8 de março
- Jairo Machado Baccin, 50 anos, professor de Hebraico morador de Jaguari, solto em janeiro
- Maria Janete Ribeiro de Almeida, 49 anos, de Santa Maria, solta em 8 de março
- Silvio da Rocha Silveira, advogado de Santa Maria, solto em janeiro
- Sonia Maria Streb da Silva, 54 anos, professora de São Pedro do Sul, solta em 8 de março
SANTA-MARIENSES QUE CONTINUAM PRESOS
- Eduardo Zeferino Englert, empresário, 41 anos, de Santa Maria
- Tatiane da Silva Marques, empresária, 41 anos, de Santa Maria
Mais de 1,3 mil já foram denunciados
Até a última quarta-feira (4), a Procuradoria-Geral da República (PGR) já havia enviado ao STF 1.390 denúncias formais contra os participantes das manifestações de 8 de janeiro
Desse total, 239 são relativas ao núcleo de executores, ou seja, daqueles que participaram das invasões e depredações nas sedes dos Três Poderes. Outras 1.150 acusações formais se referem ao núcleo dos iniciadores. Há, ainda, uma investigação sobre a suposta omissão de autoridades públicas no episódio.
No núcleo maior, as pessoas estão sendo denunciados por incitação à animosidade das Forças Armadas com os poderes constitucionais, às instituições civis e à sociedade, bem como por associação criminosa.
Penas máximas de 3 anos em caso de condenação
Os crimes estão previstos nos artigos 286 e 288 do Código Penal, com penas máximas que, somadas, podem chegar a 3 anos e 3 meses de detenção.
Segundo a PGR, as denúncias apresentadas esgotam a análise sobre a punibilidade de todas as pessoas presas no próprio 8 de janeiro, nas imediações da Praça dos Três Poderes, e no dia seguinte, em acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Até o momento, não foi denunciado nenhum financiador ou mentor dos ataques.
“Eventuais casos ainda pendentes serão avaliados e as providências cabíveis, inclusive eventuais denúncias, tomadas oportunamente”, informou a PGR.
(Com informações da Agência Brasil)