Paralelo 29

EICHBAUM: Donde viemos e para onde vamos?

Foto: Agência Câmara

JOÃO EICHBAUM – ADVOGADO E ESCRITOR

Em magnífico artigo publicado no Estadão sob o título de “A Tirania da Mediocridade”, Rubens Barbosa critica a “mediocridade da classe política dirigente” da qual emanam “despreparo, nepotismo, apadrinhamento” que, no seu dizer, constituem “formas disfarçadas de corrupção nas nomeações para o serviço público e para as filiações partidárias”.

Para ele, o Brasil precisa sair em busca “de eficiência e de resultados com visão de futuro, com uma nova liderança política e uma burocracia mais competente”.

Dono de currículo invejável, o embaixador, e hoje consultor de negócios Rubens Barbosa está coberto de razão. O Brasil, longe de estar “deitado em berço esplêndido”, se comporta como um gigantesco transatlântico que navega, desde longo tempo, por mares encapelados, sem mãos confiáveis no leme.

A bem da verdade, não custa dizê-lo: nunca, na história desse país, tivemos dirigentes que servissem de modelo. Há muitos e muitos anos se houve falar de um “futuro do país”, que é sempre adiado pelos governantes do momento.

O “despreparo”, o “nepotismo” e o “apadrinhamento”, atrelados à pura ambição pelo poder, são as linhas mestras que definem a governança desse país.

O povo não passa de importante peça decorativa, para que os poderosos encham a boca com a palavra “democracia”, com a finalidade de exaltar a política e colocar os políticos no papel de salvadores da pátria. E, entra ano, sai ano, no palco da política o que predomina é o mesmo tema: engrandecer a democracia, porque é em nome dela e por conta dela que os políticos enriquecem, num país pobre, com dívidas a se perder de vista.

Atualmente então, mais do que nunca, a palavra “democracia” serve de senha para desmandos. Do bilionário “fundo partidário”, que outra coisa não é senão uma forma imoral, mas “legal”, de sustentar políticos no poder, às prisões desatreladas do “devido processo legal” para combater “atos antidemocráticos”, a “democracia” é enaltecida como saída única para enxergar a luz das estrelas que iluminam o caminho do bem do Brasil – como diria um poeta daqueles tempos em que foi composto o hino nacional.

Mas nós, o povo, nem sonhar podemos com a luz das estrelas. A única luz que nos sobra é a luz mortiça da mediocridade. Sim, da mediocridade, que dá a luz ao “despreparo, ao nepotismo, ao apadrinhamento”, regras não previstas numa Constituição “democrática”, para colocar poderes nas mãos de pessoas que se transformam em sumidades, sem qualquer esforço ou destreza, sem jamais terem comprovado qualquer qualidade aproveitável.

Só a mediocridade ou a leviandade podem se aproveitar do conceito jurídico de democracia, usando o povo como trem pagador de mordomias para os membros dos três Poderes. 

É o povo que patrocina planos de saúde vitalícios para políticos e juízes da alta corte, “verbas pessoais”, que sustentam o “despreparo” e o “apadrinhamento” em cargos de confiança de todos os Poderes.

É o povo, enfim, que patrocina auxílio-creche, auxílio-transporte, auxílio-alimentação, auxílio-moradia e outros penduricalhos…

Sim, viajamos para destinos incertos, presos aos grilhões de regras medíocres e levianas.

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