Paralelo 29

EICHBAUM: O retrato de Alexandre de Moraes

Foto: TSE, Divulgação

JOÃO EICHBAUM – ADVOGADO E ESCRITOR

Desenhando a personalidade do senhor Alexandre de Moraes em magnífico artigo na edição do dia 15 último da revista Oeste, o jornalista José Roberto Guzzo faz lembrar as catilinárias de Marco Túlio Cícero, tal a elegância de seu estilo, tal a ferocidade de sua dialética, tal a riqueza de figuras de linguagem com que orna o discurso.

Aos ouvidos de quem domina o latim, hão se soar as palavras vibrantes de Cícero: “Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra? (até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?)

Quam diu etiam furor iste tuo nos eludet? (por quanto tempo ainda essa tua loucura zombará de nós?) Quem ad finem sese effrenata jactabit audacia? (a que extremos será levada essa tua audácia desenfreada?)

Com teores de diatribe tão semelhantes, o artigo do brilhante jornalista atravessa os séculos para resgatar as virtudes que fizeram do orador romano, Marco Túlio Cícero, um dos mais respeitáveis em toda a história.

Viperino, sem a vulgaridade das expressões ditadas pelo ódio, pela indignação que empobrece o vocabulário, tipo “você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso”, Guzzo arma toda sua dialética, toda a estrutura do discurso, a partir do título do artigo: “De delírio em delírio”.  

“O ministro é um caso, ao que parece, inédito na vida pública em geral, de personagem que considera que o modo mais eficaz de construir uma carreira pública é fazendo inimigos”, diz Guzzo, em uma das muitas premissas encharcadas de fina ironia que o levam a concluir que Moraes “não pode se declarar, ou ser nomeado, Lorde Protetor do Brasil, ou Chefe Vitalício do Poder Moderador, ou Czar do Sul Global; nenhum desses cargos existe”.

Sem deixar nada fora de tudo aquilo que faz de Alexandre de Moraes uma figura estranha no vocabulário político, Guzzo se impõe pelo apuro da linguagem, com as garras da ironia afiadas literariamente.

Seu texto não traz as marcas do despeito, mas sim, as de uma irreverência intimorata, qualidade própria de quem sabe criticar de cabeça erguida.

O jornalista não bombardeia Moraes com desprezo e escárnio, mas usa da elegância literária permitida a quem se propõe uma crítica necessariamente ácida.

E traz exemplos vivos dos danos provocados por um furor desabastecido de provas, que está longe de servir como sinônimo do valor jurídico chamado Justiça. Como foi o caso daquele infeliz morador de rua, o sem teto considerado “golpista” por atentado contra os poderes constituídos.

Por pura combinação de acasos, o pobre homem fora levado de arrasto na aglomeração concentrada em frente aos prédios públicos principais do governo federal.

Mas sua simples presença foi considerada prova de crime de golpe de Estado, em denúncia coletiva apresentada pela PGR. 

Essa peça, que mais parece encomenda, desassistida de materialidade e circunstâncias, com descumprimento do artigo 41 do Código de Processo Penal, foi recebida como denúncia pelo ministro Alexandre de Moraes. O discurso execratório de Guzzo é o grito a que nos constrange o sistema, com as leis postas fora de lugar.

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