Paralelo 29

EICHBAUM: Você conhece o Ednaldo?

Ednaldo Rodrigues, presidente afastado da CBF/Foto: Rafael Ribeiro, CBF
JOÃO EICHBAUM – ADVOGADO E ESCRITOR

Não. Não o conhece. Só o conhecem pessoas importantes, tipo Gilmar Mendes. Mas, você não passa de simples pagador de impostos, subespécie que fica na linha de baixo do estrato social deles.Mas, se você faz questão de conhecê-lo, a redação de O Sul transcreveu o retrato de Ednaldo Rodrigues, fornecido por um cartola metido a antropólogo social, mas que não quis se identificar:

“Ednaldo é uma pessoa que está sempre no lugar certo e na hora certa. É o cara que ninguém dá nada, porque tem uma personalidade amorfa, é aquele que não se destaca, mas também não é um Zé Ninguém. É uma pessoa daquelas sem expressão, que as circunstâncias, certas vezes, fazem o futebol precisar”.

Há momentos em que o futebol deixa de ser simplesmente esporte, para se tornar novela, ou incitante dramalhão de baixo quilate, que oferece assunto até para cronista que não é da seita dos “esportivos”.

Nem todo mundo se interessa por futebol, ou perde saliva expedindo comentários sobre aqueles sujeitos cuja profissão consiste em correr atrás de uma bola de couro, para garantir o pão da filharada, para ficar rico e famoso, se juntar com mulherões que todo mundo cobiça, ou simplesmente por nada, apenas para se divertir em fins de semana com amigos e encher a cara com cerveja.

Mas há uma considerável parcela de aficionados, cujo bumbum esfregado no concreto garante orçamentos estratosféricos para o luxo, a fama e a riqueza de uma minoria.

Com sua força, a paixão futebolística cria tentáculos, favorecendo outros ramos de atividade, tais como a indústria e o comércio, que produzem “marcas”, e empresas de comunicação que desemprenham ídolos.

Em suma: poucos são os que escapam dos raios dessa paixão. Mas, mesmo que o consigam, aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, certamente não escaparão da pergunta sobre suas preferências, se são gremistas ou colorados, como se isso fosse um requisito de cidadania.

Nos últimos dias, a pauta jornalística principal, que era a eleição do novo papa, acabou na arena esportiva. E sabem quem mudou a pauta, assim de uma hora para a outra?

Exatamente, o sujeito aquele da “personalidade amorfa”. Tudo porque o futebol estava “precisando” de uma “circunstância” que estava a exigir a “figura sem expressão” do Ednaldo. Ele contratou o italiano Carlo Ancelotti, um treinador famoso, para comandar a seleção brasileira.

Mas, Ednaldo que, por conta dos saberes jurídicos do Gilmar Mendes, se nutria com os ovos de ouro da galinha CBF, foi defenestrado do galinheiro por ordem da Justiça carioca.

Noticia-se que a CBF pagou dez milhões a um advogado, para entregar sua escola de Gestões ao IGP, do qual é sócio Gilmar Mendes. Pelo contrato o IGP fica com 84% do faturamento, repassando 16% à CBF.

O ministro, embora colha dividendos como sócio, nega conflito de interesses que o impeça de julgar a favor do Ednaldo.

Agora vocês sabem quem é Ednaldo: um sujeito “sem expressão”, que é capaz de produzir redomas à prova de imoralidade…

Compartilhe esta postagem

Facebook
WhatsApp
Telegram
Twitter
LinkedIn