POR JÚLIO PUJOL – PROFESSOR, DIRETOR DO INSTITUTO ALTA POLÍTICA E CONSULTOR POLÍTICO
A primeira cúpula dos BRICS (que ainda eram apenas BRIC, sem a África do Sul) aconteceu numa média cidade russa, Ekaterimburgo, aos pés dos Montes Urais.
O presidente da Rússia era Medevedev, do Brasil, Lula, da China, Hu Jintao, e da Índia, Manmohan Singh. Era o ano de 2009, e o bloco era apenas uma ideia, uma possibilidade.
Os quatros países reunidos eram vistos então como “emergentes”, ou seja, possibilidades de futuro. De certa forma não assustavam muito.
Eram uma novidade simpática no cenário internacional; uma possibilidade de bons negócios para as economias já consolidadas do G7, ou um pouco mais. A África praticamente não existia enquanto protagonista de qualquer jogo.
PUJOL: O Brics, o Brasil e os políticos brasileiros
Passados 14 anos apenas, e o mundo é outro. Passamos por uma revolução tecnológica. A informação hoje não é mais monopólio de algumas grandes redes de comunicação. Todos estamos interligados com nossos telefones inteligentes. Superamos uma pandemia planetária.
A China é quase o mais rico país do mundo, com crescimento substancial ininterrupto. A Índia é o país que mais cresce, e já chegou à lua. A África parece que acordou e está tentando construir a sua unidade e se posicionar no mundo como um grande potencial. Tem recebido bilhões em investimentos chineses.
E tem questionado o tipo de relações neocoloniais que alguns países europeus (particularmente a França) ainda querem manter com ela.
O Brasil se consolida como o grande produtor de alimentos para o mundo e como uma potência verde, rico em possibilidades de geração de energias sustentáveis. Ainda um país de futuro.
A Rússia, maior território do planeta, e potência energética, tecnológica e militar, se reposiciona geopoliticamente. Ainda é um ponto de interrogação em função da guerra em curso.
Na segunda Cúpula, que ocorreu em Brasília em 2010, foram discutidas questões estruturantes entre as nações, como segurança alimentar, energia, ampliação do comercio e das trocas entre os países, uso das moedas nacionais, tecnologia, cooperação entre universidades, entre outros.
Além disso se continuou a discutir a necessidade de renovação dos mecanismos multilaterais, como Banco Mundial e FMI. Os BRICS ainda eram pouco mais que uma plataforma de reinvindicação e queriam seu espaço nos mecanismos internacionais existentes.
Em 2011, a terceira Cúpula acontece na China. A partir deste ano a África do Sul passa a integrar o Bloco. A reunião decidiu continuar pressionando para que o G20 seja o grande espaço de discussão e resolução dos temas econômicos mundiais. O grupo também se posiciona cauteloso em relação ao ataque da OTAN à Líbia. A presidente do Brasil era, então, Dilma Rousseff.
2012 teve a primeira Cúpula na Índia. Aos poucos o grupo começava a ganhar relevância e atenção global. Discutiu-se a criação de um banco, mas não se amadureceu o suficiente essa proposta.
No campo internacional, ainda se pressionava por renovação nos mecanismos de decisão, como Banco Mundial e Conselho de Segurança da ONU. O Grupo se posicionou de modo preocupado com as sanções e isolamento do Irã, bem como quanto às questões da Síria e Afeganistão.
Xi Jinping e Vladimir Putin são os presidentes da Rússia e da China, respectivamente, na Cúpula de 2013, que acontece pela primeira vez na África do Sul. O Banco dos BRICS continua na pauta.
A sexta Cúpula aconteceu no Brasil, em Fortaleza, Ceará, em 2014, e foi um marco na liderança do Brasil na América Latina. O Brasil convidou os países da então UNASUL, que realizaram uma cimeira com os BRICS. Nesta VI Reunião anual foi criado o Banco dos BRICS, com capital inicial de 100 bilhões de dólares.
Tal decisão significa um marco, e a consolidação do bloco, com enorme impacto político no cenário internacional, para além das reivindicações e dos comunicados. O Bloco efetivamente estava consolidado e partia para um novo patamar de influência no jogo internacional.
Depois, tivemos a VII Cúpula do Bloco, na Rússia, em 2015, a VIII, na Índia, a IX Cúpula, na China, sendo o presidente do Brasil, Michel Temer.
A X Cúpula foi em Joanesburgo, na África do Sul, novamente. A XI primeira Cúpula voltou ao Brasil, à Brasília, sob a presidência de Bolsonaro.
A XII Cúpula, em 2020, foi presidida pela Rússia, porém virtual, em função da pandemia de COVID19 que assolava o mundo.
A XIII ainda virtual, foi presidida pela Índia, em 2021 e a XIV foi presidida pela China e também foi por videoconferência. Nesta Cimeira, países como Argentina, Turquia, Egito, entre outros, já manifestavam interesse em aderir ao Bloco.