Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: Uma mulher no STF

Foto: Divulgação

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Num programa na GloboNews, uma debatedora negra afirmou que a pessoa branca não representa a raça negra, pois ela não traz a vivência e a experiência dos negros, por mais progressista que seja.

Guardei essa frase. Ela diz tudo quando falamos sobre igualdade, diversidade e racismo. Quando falamos sobre representatividade.

Então…

Na primeira indicação de Lula para o STF nós esperávamos o nome de uma mulher e, se fosse um pouco mais além, uma mulher negra. No entanto, o indicado foi um homem, branco, rico e hétero. Um terrivelmente amigo. Alguém ficou surpreso? A política não tem mais a capacidade de surpreender.

A segunda indicação de Lula foi confirmada recentemente pelo senado. Como já sabíamos há um bom tempo, Flavio Dino foi o nome da vez e aprovado pelos senadores.

E aplaudido pelos presentes e elogiadíssimo pelos correligionários. Posso dizer que é uma velha raposa com notório saber jurídico e isso é também um elogio para o novo ministro do STF.   

Assim, o substituto de Rosa Weber será um homem e podemos afirmar que o atual governo reduziu em 50% a participação feminina no STF. Chocante esta frase? É para chocar. É para provocar o indignado que existe em nós e em nossas adormecidas veias.

Depois desta definição ficamos com aquela nítida impressão que deveria ter sido uma mulher. Era o momento para ratificar as propostas de maior participação feminina nos altos escalões dos poderes. Mas nós, os periféricos, não sabemos da missa a quinta parte.

Indicar uma mulher para o STF é também uma forma de combater o machismo, o sexismo e a violência de gênero que ainda persistem na sociedade brasileira.

É uma forma de inspirar outras mulheres a seguirem seus sonhos e suas carreiras. Parecia óbvio, mas a lógica da política tem variáveis fora da obviedade.

O patriarcado está muito bem explícito quando vemos a composição do Supremo Tribunal Federal. E não vai ser fácil quebrar esta engrenagem porque a complexidade vai além da nossa compreensão. O sistema é rígido.

O título da crônica “Uma Mulher no STF” faz referência ao anseio das pessoas progressistas que desejam avanços na participação feminina. Esta proporção tem que estar refletida no Supremo. Aliás, as próximas indicações deveriam contemplar mulheres no STF até atingir a paridade de representação.

Como a indicação foi de homem, haverá um retrocesso na participação, pois será reduzida de duas para uma mulher no Supremo. E, ainda assim, o título da crônica fica valendo porque teremos apenas “Uma Mulher no STF”.

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